Bertioga, antes Buriqui-oca, a casa dos macacos buriquis. Fronteira entre matas e águas atlânticas, bordada de manguezais, berçários da vida marinha, ali as línguas tupis já acusavam sua imensa riqueza biológica, abrigo do maior primata que habita as florestas sul-americanas.
A Bertioga que Jean Gillon visitou na década de 1960 guardava quase intactas as paisagens naturais entre o continente e a ilha de Santo Amaro. Ali, tão próximo do Guarujá, cuja urbanização já vinha da Belle Époque e que se acentuara na década de 1950, vicejavam ainda os biomas que cercavam a ainda pequena Bertioga, parte continental da cidade de Santos.
Na ponta da península, formada pelo Rio Itapanhaú e o braço de mar que separa Bertioga da ilha em frente, ergue-se o forte de São João, antes de São Tiago. O mais antigo dos fortes ainda existentes no Brasil. Patrimônio nacional tombado pelo IPHAN em 1940, ele nos lembra que as fronteiras de Bertioga foram não só a dos biomas que se encostam entre mar e montanhas, mas também dos territórios em disputa, das lutas dos invasores europeus e entre os invasores europeus, e das resistências dos povos originários.
Bertioga que recebeu os tupinambás, que abrigou Anchieta e Manoel da Nóbrega, da qual partiram os fundadores da cidade do Rio de Janeiro para a Guanabara. Bertioga, moradia de caiçaras, de pescadores, dos operários da usina hidrelétrica de Itatinga, dos veranistas da primeira colônia do SESC, criada em 1948. Bertioga, cujos rios sinuosos, matas e calores tropicais se metamorfoseiam em uma das mais belas criações de Jean Gillon. Uma poltrona que nos abraça e nos relaxa, a partir das muitas camadas de sentido vindas daquela encruzilhada de tempos situada no litoral paulista.
Paulo César Garcez Marins
Historiador