A tapeçaria artística moderna é uma das vertentes mais inovadoras da produção cultural de nosso país na segunda metade do século XX.
Nomes como Genaro de Carvalho, Burle Marx, Jacques Douchez, Norberto Nicola, Jean Gillon e Sylvio Palma integraram o Brasil à revalorização da tapeçaria capitaneada pela França. Aqui ela foi retomada e reinterpretada, ora com o cromatismo e as formas tropicais, ou com a irreverência diante das tradições têxteis europeias.
O mineiro Rubem Dario, nascido carioca, é um dos grandes protagonistas desse movimento. A explosão de cores contrastantes, cítricas, com vermelhos, amarelos e verdes acentuados, marca sua produção tão criativa quanto singular, fortemente autoral.
O uso do preto, uma cor tão difícil aos artistas, é manejada por Rubem Dario com maestria, delineando as cores e formas, construindo os gomos, pétalas e folhas vegetais que deslizam para a abstração. Auroras e poentes de cores, dissolvendo e atravessando os horizontes, também pontuam suas criações, em diálogos surrealistas tardios.
Seu grande legado gráfico, formado pelos estudos em papel de suas produções têxteis, indicam que por trás de seus gestos poéticos, livres, se previa a geometria rígida da produção têxtil. Documentos de uma cadeia artística de cores e formas e de linhas e tramas, esses estudos, assim com suas tapeçarias, testemunham o rigor de um artista que é um dos grandes intérpretes da potência visual brasileira.
Paulo César Garcez Marins
Historiador